30.11.07

Par(t)ida

Da vida uma triste partida fica,
As horas não esperam nossas horas
E dessa vergonha a cicatriz...
Eu te daria mais se me faltasse pouco
E muito se não me faltasse.

E te pariram prá que no mundo
Mais um sofresse.
Choravas tu, padecia eu...
Crescemos sem amor
Mas depois, amor, ele veio
Forte como as águas de março,
Arrancando tudo...
“E assim como veio, partiu”
Mas eu sei prá onde... Ah! E como eu sei.

Da vida
Uma triste partida
Mas cada dia que passa
Diminui cada dia.
E o diminuir do tempo é meu prazer,
Lapidando versos: pó, ética e mente
“E assim como veio, partiu”
E ninguém sabe,
Só quem partiu e veio.

Comentário: a vida é essa sucessão de chegadas e partidas e o que as qualifica está no quanto da gente se vai e no quanto se chega. As amizades, pelo menos as verdadeiras, sempre estarão no limiar da chegada ou da partida – ou naquele momento iminente e crucial que sempre nos espreita e põe à prova nossas relações com o outro. Partidas tristes, dos que se vão por vontade própria ou dos que são obrigados a ir, que deixarão elas? Tristes partidas! E seu oposto, as partidas alegres, de alívio, de controle, de desejo, de necessidades, que deixarão elas? Alegres partidas, em geral esquecidas mais além e com bem pouca saudade, tenho certeza.
Que na minha, na nossa partida, seja de uma tristeza boa, de saudade... “Eu lhe daria mais se me faltasse pouco e muito se não me faltasse”

Texto: Lucienio Teixeira
Webmaster : Paula Medeiros

24.11.07

Por qué no te callas?


Este título é o produto emergente de uma polémica pergunta que o rei de Espanha, Juan Carlos I, irritado, lançou à cara de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, no passado dia 17 de Novembro, durante a sessão plenária da XVII Cimeira Ibero-Americana, que decorreu em Santiago, capital do Chile.

O facto que motivou a irritação do monarca espanhol foi ouvir Hugo Chávez chamar “um fascista de todo o tamanho” a José Maria Aznar, militante do Partido Popular (Direita), penúltimo primeiro-ministro de Espanha e apoiante de George Bush, com Durão Barroso ex-PM de Portugal e actual presidente da Comissão Europeia (UE), na mentira que levou os USA a invadir o Iraque e provocar uma guerra devastadora para o povo iraquiano e a economia mundial devido ao aproveitamento para aumento do preço do petróleo.

Juan Carlos viveu refugiado em Portugal com o pai, na linha do Estoril-Cascais-Lisboa, durante a sua juventude e em plena vigência da Ditadura salazarista, quando em Espanha “reinava” o feroz e assassino ditador Francisco Franco, o qual viria a preparar o monarca para ser o rei que é hoje e lançar os alicerces da Democracia no maior país da Península Ibérica, o que aconteceu após a morte do “caudillo” e depois do golpe militar de 25 de Abril de 1974 que acabou com 48 anos de opressão, tortura e privação da Liberdade dos portugueses.

Os revolucionários de Esquerda (comunistas e antifascistas) sempre chamaram “fascistas” aos políticos de Direita. Hugo Chávez é um militar revolucionário, um homem corajoso, esquerdista e sudamericano apoiado pelo seu camarada Fidel de Castro e pelas ideias de Simón Bolívar, venezuelano, lutador e conquistador da Liberdade que expulsou os colonialistas espanhóis de triste memória da chamada América Hispânica. Consequentemente, HC tem todo o direito de opinar politicamente sobre quem quiser, mesmo que o faça como ditador e político “mal educado”, porque os direitistas e os fascistas, usando Deus, Fátima e a Igreja, sempre “mimaram” os esquerdistas e revolucionários com “bocas” e diversos epítetos muito depreciativos e caluniosos.

Quem viveu sob a pata de uma Ditadura, seja da Direita ou da Esquerda, da Religião ou Revolucionários, não se coíbe de afirmar que são todos uns “grandes filhos-da-puta” para o povo-povo, explorando-o, manipulando-o, ajoelhando-o, empobrecendo-o e escravizando-o a dizer que é “A bem da Nação”.

Hugo Chávez acabou com uma ditadura da Direita mascarada de “democracia” na Venezuela e numa população em que 43% vivem na extrema pobreza, já reduziu em 10% esta situação social, usando a sua riqueza natural, o petróleo, para dar alimentos, vestuário, trabalho e casa aos pobres.

O rei de Espanha excedeu-se (talvez devido à instabilidade psicológica que assolou a sua vida familiar com “a separação temporal”, divórcio, da sua filha primogénita) e não foi correctamente político ao pretender, numa reunião democrática de latino-americanos, calar o presidente da Venezuela, um país grande, respeitável, bonito e que tem recebido e permitido a vida a emigrantes de toda a América do Sul. Para os continentes europeu e americano se rirem, ficou a frase “Por que não te calas” Hugo Chávez? Eu respondo: um revolucionário de Esquerda nunca se deve calar perante os deuses, os reis, os ditadores e a Justiça “deles”!

Não seria um ditador igual, comunista, revolucionário e de Esquerda que os brasileiros pobres e miseráveis estão a precisar, apesar do socialista democrático Lula da Silva já estar a fazer alguma coisa de útil à vida sem esperança desta grande fatia da população do Brasil? Sonhem que pode ser desta, com a descoberta de um vasto território marítimo de petróleo pela Petrobrás e a GALP (empresa petrolífera portuguesa), quando começar a exploração e exportação da “merda negra” lá para depois de 2011. E de uma coisa pode ficar certa a classe média brasileira: se os pobres ficarem com uma vida menos pior, todos ficarão melhor e os ricos enriquecerão mais.

Em Portugal também já se sonha com uma possível descoberta de gás natural no mar defronte do Algarve, de onde partiram os primeiros Descobrimentos marítimos…

Texto: MARQUES PEREIRA
Foto: A.N.I.
Webmaster: Paula Medeiros

17.11.07

A grande descoberta



Sem querer ser ufanista como o personagem de Monteiro Lobato, o visconde de Sabugosa, mas esta descoberta de um grande lençol petrolífero permite abrilhantar o nosso futuro económico. Não é a toa, o entusiasmo das autoridades, mas descoberta quando totalmente confirmada nos permitirá ser um dos maiores produtores a nível mundial.

Para entender a extensão das novas reservas, elas vão dos estados de Santa Catarina ao Espírito Santo. São 160 mil quilômetros quadrados abaixo do leito marinho numa superfície maior que o estado do Ceará.Numa região geológica formada há mais de 120 milhões de anos, chamada pelos técnicos de pré-sal, a Petrobras anunciou a existência de de uma área chamada provisoriamente de TUPI, algo como 5 bilhões de barris de petróleo e gás.

O momento é importante, pois veio em uma hora que nossa dependência do gás boliviano nos deixava numa situação incomoda, principalmente com a inercia de nosso governo no episódio. A descoberta proporciona deixar o país entre os 10 maiores produtores do mundo, bem como tornar-se exportador da OPEP. O Brasil é uma país com estabilidade politica e instituições democráticas em níveis muito superiores ao dos atuais membros do clube.

A Petrobras começou a apostar na existência de novas reservas há cerca de 10 anos. Foi quando técnicos constataram que o óleo extraida das três maiores bacias do país ( Espírito Santo, Campos e Santos) formava-se debaixo de uma camada de sal, de até 2.000 metros de espessura , no fundo dessas bacias.

Como essa camada é profunda o grande inconveniente é que a busca foi cara e muito demorada, mas na atual conjuntura vale a pena. Sabemos que há de se concluir estudos sob a viabilidade económica do que foi encontrado. Não adianta furar e tirar petróleo lentamente . Eles só valerão a pena se produzirem no mínimo 20 mil barris por dia, isto sem falar num determinante da equação que será sempre a cotação internacional do preço desse barril.

Mas , lhes digo que sou sempre a favor de tudo que nos possa elevar como país e principalmente melhores condições de vida para nosso povo. assim, repito a frase celebre do ex presidente Getúlio Vargas:

O petróleo é nosso !

Texto: Paulo Medeiros

Foto: Petrobras

Webmaster: Paula Medeiros

9.11.07

UMA MULHER SEM ROSTO


Por mais que pensemos e digamos que já sabemos muito ou alguma coisa sobre as relações humanas é na vivência com os outros que vamos conhecendo e aprendendo a reconhecer a criatura que fisiologicamente é nossa semelhante.

Que pensar da mulher que considerou um homem como “um Áries com a energia e a coragem do deus Marte” e em segredo com a sua personalidade em desagregação crê que o ama, mas tem medo de mostrar-lhe o rosto e os seus olhos?

Será que ela é uma esquizóide com vergonha da sua cara? Que é uma embuste? Que é uma fraude virtual? Que afinal não existe com o nome que diz ter? Que vive no horror de viver e se esconde de si e dos outros com quem se assume e gostaria de conviver?

Ela é um “mistério” de convivência humana que deixou de o ser quando comecei a escrever este comentário baseado numa história que me contaram, a qual aqui deixo como mais uma experiência que pode surgir na vida de outras pessoas, mesmo que a “misteriosa” criatura seja toda dedicada a Deus, santos e rezas, missas e à catequização de crianças às quais espero que ela não lhes tenha ensinado a esconder o rosto e os olhos que são a expressão da nossa alma e do nosso Eu exteriorizável através de um olhar.

A propósito dos olhos e do olhar, Anselmo Borges, padre da Igreja Católica, que também é teólogo e professor de Teologia, escreveu no jornal DN (Lisboa-Portugal):
“Não é dos olhos que se trata. O mistério é o olhar. Um dia terão perguntado a Hegel o que se manifesta e vê num olhar. E ele respondeu: "O abismo do mundo”. Num olhar, o que há é alguém que vem à janela de si e nos visita. Também por isso, para tornar alguém anónimo, venda-se-lhe os olhos. Faz-se o mesmo a um condenado à morte, porque é intolerável o seu olhar. Até para nós próprios somos por vezes terrivelmente estranhos. Quem nunca se surpreendeu ao olhar para o seu próprio olhar no espelho? "Quem é esse ou isso que me vê, desde o abismo?"

Essa estranheza assalta-nos até no olhar de um animal: um cão velho e abandonado que nos olha não nos deixa indiferentes. Mas é sobretudo o olhar de alguém que é perturbador. Ele há o olhar triste. O olhar meigo. O olhar arrogante. O olhar do terror. O olhar da súplica. O olhar de gozo. O olhar que baila num sorriso. O olhar concentrado. O olhar disperso. O olhar da aceitação. O olhar do desprezo. O olhar compassivo. O olhar do desespero. O olhar sedutor. O olhar envergonhado. O olhar da despedida final para sempre. O olhar morto, que já não é olhar.
O olhar é a presença misteriosa de alguém, que ao mesmo tempo se desvela e se vela. Já ao nível do tal cão velho e abandonado pode erguer-se o sobressalto da pergunta: o que é e como é ser cão? Mas é uma sensação de abismo, um belo dia, precisamente perante o olhar de alguém, ficarmos paralisados com a interrogação: o que é ser alguém outro? Porque a outra pessoa - o outro homem ou a outra mulher - não é simplesmente outro eu, mas um eu outro. Explicitando: o que é e como é ser o Juan ou a Eunice, viver-se a si mesmo por dentro como o Juan ou a Eunice? Nunca saberei. E como é o mundo visto a partir deles? E como é que ele ou ela me vêem? O quê e quem sou eu realmente para eles, a partir do seu olhar?
E como é que eu sei que há o outro, não enquanto outro eu -ainda no prolongamento de mim-, mas precisamente como um eu outro, sujeito inapreensível?

Sartre teorizou que esse saber é dado de modo indubitável no sentimento da vergonha. E dá o exemplo de alguém que, num hotel, está, concentrado, a espreitar pelo buraco da fechadura. Ouve passos no corredor. Então, no sentimento paralisante da vergonha, ao ficar objectivado pelo olhar do outro a quem os passos pertencem, sabe que há um sujeito que não é ele. Ele é objecto para esse sujeito que o vê: é visto.
Se a única ou a principal relação com o outro fosse a da vergonha, não se aguentava viver, porque "o inferno" seriam "os outros". Sartre cortou relações com Deus por causa do seu olhar horrorosamente indiscreto. É certo que só vimos a nós pela mediação do outro. Sem outros eus, enquanto tus, não há eu.

Mas será que a única ou mesmo a principal relação com o outro é a da vergonha?

Entre mim e o outro há uma tensão dialéctica: de distância e proximidade. Afinal, a relação com o outro pode ser de rivalidade ou de aliança, de destruição ou de criação. Então, precisamente no olhar do outro, enquanto próximo inobjectivável, irredutível, de que não posso dispor, pode revelar-se o apelo misterioso da proximidade infinita…”.

Lida a reflexão de Anselmo Borges, podemos crer que não devemos ter medo do rosto e dos olhos do Eu nem do Outro, tu de ti e eu de mim, nós Deles e todos de Nós, porque a nossa cara e os nossos olhos são a nossa imagem natural e passível de ser alterada por cirurgia reconstrutiva e reparadora (ou pela maquilhagem que nos leva a afirmar que “já não há mulheres feias”), inclusive os olhos que até os podemos fazer “mudar” de cor com lentes adaptáveis e existentes no mercado e serviços ópticos.

Quem não conhece a cara dos desengraçados aborígenes das tribos incivilizadas da Micronésia, Melanésia, Australásia, África Equatorial e Amazónia? Até eles não têm medo de mostrar os seus rostos feios e medonhos, porque entretanto descobriram que dentro das pessoas que não são bonitas pode haver muita humanidade, beleza e amor.

Nem Jesus de Nazaré, que tinha cara de afro-asiático e, por ser feio, o Catolicismo mandou pintá-Lo com um rosto de europeu de olhos azuis e cabelos louros e compridos.

Nem a Madre Teresa de Calcutá, uma santa que foi pessoa, viveu e ficou conhecida por dar o autêntico Amor Cristão aos mais pobres e aos que mais sofriam, feia como a noite num bairro miserável da Índia e nunca teve medo de mostrar o seu rosto ao mundo…
Texto: MARQUES PEREIRA
Foto: A.N.I.
Webmaster: Paula Medeiros