Temos por hábito dizer que nada nos espanta ou surpreende.
Então depois de um porco a andar de bicicleta! Nada mais errado. Eu também
pensava assim.
Infelizmente, a violência, tem ocorrido em manifestações
desportivas e têm merecido, da minha parte, condenação e repúdio total nas
páginas deste Diário. Numa democracia a segurança dos cidadãos é o valor
prioritário do estado de direito. Muitas queixas de violência policial surgem
relatadas nos jornais. Difícil ter um juízo sobre a ocorrência. Se, eventualmente,
acontece, não vemos ou desconhecemos as circunstâncias. Mas, aqui, eu vi e os
portugueses viram. No final do jogo, do título, em Guimarães, a brutalidade
policial perpetuada por um agente de autoridade protegido por outros 6, armados
até aos dentes, de bastões, pistolas e capacetes, contra um homem que tinha
como escudo de protecção os seus dois filhos, uma criança bebendo água e um
adolescente, e seu pai já idoso. Não satisfeito toca a esmurrar o “velho”. De
uma só vez a polícia cobardemente agride três gerações. Avô, pai e neto. Não
quero saber das razões. Nada justifica tamanha barbaridade.
Acredito que todos os seus colegas agentes deste país, por
mais corporativistas, não se revêm e se sentem envergonhados. Se assim não for,
sinto-me assustado. Eu sou “velho”, tenho filhos e netos. Como diz o poeta
“vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Na escola, perante uma
traquinice, professor que ouse levantar a voz ou imaginar tocar ao de leve na
orelhinha de um aluno, perante a participação dos pais, apressa-se o Estado a
punir o docente pelos traumas psicológicos causados numa criança em
crescimento. E aquela criança assustada? O estado não a defende? Que imagem
ficará da polícia? Comparando factos, as imagens, condenáveis, que nos
intoxicaram na TV sobre violência entre adolescentes na Figueira da Foz, são
carícias. Violência gera violência. As autoridades na sua formação
profissional estudam estes fenómenos.
Como podem exigir tolerância e respeito com posturas condenáveis? Colocam-se a
jeito.
As cenas de violência no Marquês não terão a ver com isto?
Já há inquérito. Sempre houve. Mas imaginamos o seu desfecho. Pelo menos na
justiça desportiva há consequências, embora possamos questionar, com
legitimidade, a justeza das penas aplicadas. Assistimos, diariamente,
comentadores políticos, que perante indícios comportamentais duvidosos de
políticos, chegam, por vezes de forma ridícula, a pedir consequências, exigindo
demissão dos cargos. Em minha opinião, o que se passou em Guimarães, não se
resolve apenas com a punição dos agentes prevaricadores, transferindo-os para
uma qualquer secretaria de um comando de polícia deste país. O que está em
causa não é apenas o polícia, mas a segurança dos cidadãos. Aqui, sim, perante
esta vergonha nacional, há razões legítimas para exigir a demissão da Ministra
da tutela.
Texto: Prof. Franscisco Costa. Transcrito da coluna opinião do Diário de Noticias - Madeira
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