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Este texto não pretende meter no “mesmo saco” todos os brasileiros residentes no Rio de Janeiro, uma cidade tão linda e com uma das maiores maravilhas deste mundo que é o monumento a Cristo Redentor, mas apenas manifestar a minha indignação e reprovação pelo ataque que dois bandidos armados fizeram à casa de um padre católico, o qual, na altura, estava reunido com vinte caridosas senhoras a planejar a distribuição de alimentos e brinquedos aos pobres de um bairro periférico do Rio de Janeiro.
Os bandidos agrediram o padre na cabeça, ao ponto de ter sido levado e ficado no hospital em observação clínica. Eles exigiram que o clérigo lhes entregasse todo o dinheiro que havia na igreja, numa das duas que existem em Bangu, que nesta época da festa natalícia de Jesus de Nazaré é abundante nos templos católicos e se destina a distribuir pelos pobres em numerário, alimentos e brinquedos.
Às senhoras roubaram os telefones móveis (“telemóveis” em Portugal e “celulares” no Brasil), obrigando-as a deitarem-se no chão.
Este banditismo brasileiro já se espalhou pela América e Europa, tendo em Portugal e Espanha contribuído para encher as cadeias, onde os íberos (como são designados os povos destes dois países) começaram a ver todos os brasileiros, injustamente para a maioria deles, como indesejáveis vigaristas, ladrões, capangas e assassinos, mantendo-se à distância deles com desconfiança, precaução e defesa.
Recordo e dou a ler este poema do baiano Rui Barbosa, uma das mais importantes personagens da História brasileira (1849-1923), advogado, jornalista e político, que poetou assim o Brasil de então como se fosse uma profecia para o Brasil de hoje:
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo
por ter batalhado sempre pela justiça
por compactuar com a honestidade
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.
Como eu, Marques Pereira, sou uma pessoa que gosta sincera e sentimentalmente dos seus amigos, ao ter conhecimento destas notícias de ladroagem e violência fico preocupado com a vida e os bens dos brasileiros que me concedem a sua amizade e que estão a viver em Portugal, Espanha e no Brasil.
Cuidado com a vossa vida, pois ela vale mais do que o dinheiro que têm no momento de um assalto e de todos os bens que possuem! Se forem assaltados, obedeçam aos bandidos, não os olhem nos olhos, vejam como eles são e vestem para contar à polícia, deixem eles levar tudo para que, meus amigos, continuem vivos!
E tenham um santo Natal, com muita alegria, boa comida e bebidas, a família reunida e uns minutos de memória pelo Homem que lhes permitiu festejar o nascimento de um mundo diferente e crescentemente novo, livre, fraterno e caridoso: Jesus de Nazaré.
Texto: MARQUES PEREIRA
Foto: Autor N.I.
Webmaster: Paula Danielle Medeiros
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