Esta semana apresento um texto do João Aurélio, um nordestino brasileiro que um dia migrou para Portugal e com a crise retornou ao país. Ele fala aqui o que acha dos protestos, na sua visão com fortes características daqueles que admiram o governo Lula/Dilma. Como nosso Blog é favorável ao debate de idéias, achei por bem contribuir com o texto do Aurélio, em um momento em que o Brasil continua tendo protestos. Quero deixar claro que o pensamento do texto não é necessariamente o pensamento do redator.
"No jogo México 1 x 2 Itália, pela Copa das Confederações, eu estava a trabalhar no Maracanã, fazendo “um bico” para custear o curso que estou a fazer aqui no Rio de Janeiro.
Ao sair do estádio, no final do trabalho, algum tempo
depois de acabar o jogo, eu e outros colegas de trabalho nos vimos cercados, de
um lado por centenas de policiais e do outro por centenas de manifestantes a
protestar contra a corrupção e aumento das passagens de ônibus aqui no Rio de
Janeiro (de 2,75 para 2,95. Um absurdo!).
Fico a pensar que as manifestações são legítimas e
fazem todo sentido. Entretanto, são politiqueiras porque induzidas pela mídia e
procuram golpear o Governo Lula/Dilma, que a bem da verdade, tem feito o
possível para mudar para melhor as condições de vida da população. Essa é minha
opinião e os dados e o sentimento quase geral do povo testifica que o Brasil
mudou para melhor nos últimos 10 anos.
Dilma não tem poder para fazer as transformações que o
Brasil precisa. Para mudar o Brasil ela precisa fazer mudanças de Lei no
Congresso, e no Congresso o PT conta com 17% da bancada, algo insuficiente para
quem quer fazer alguma mudança profunda. Com isso, a Presidenta Dilma fica
submissa à vontade do PMDB do Sarney, do Michel Temer e do Renan Calheiros,
todos, antigos companheiros do governo Fernando Henrique.
O PMDB está sempre onde está o poder e sabe que no
atual modelo político brasileiro, para que um Presidente da República possa ter
as condições mínimas de governar, precisa do apoio político dele, por isso não
quer mudar.
Como resolver o problema?
Dilma, esperta, já que não consegue convencer a base
aliada na conversa, propôs consultar a população sobre a necessidade de uma
Reforma Política, como forma de dar vazão às demandas dos manifestantes.
Ela sabe que o poder político se encontra na mão das
grandes empreiteiras, bancos, e outras grandes empresas que bancam os políticos
em época de eleições através de doações. Por isso, a Reforma Política terá que
mexer nesse vespeiro, algo que não interessa a estas corporações que têm o
poder real.
Há um entendimento no Brasil por parte de algumas
cabeças pensantes que uma Reforma Política que tornasse as campanhas políticas
100% financiadas pelo poder público poderia tirar o poder real da mão dos
financiadores privados, assim o Congresso deixaria de ser a casa deles, e os
congressistas os seus funcionários.
Dentro dessa visão, mais valia manifestações por uma
Reforma Política que torne as campanhas políticas 100% financiadas pela União
do que manifestações que de fato só têm beneficiado os que contribuíram para
tal estado de coisas (preço alto de passagens, falta de infraestrutura urbana,
sistema de saúde precário, etc.), que é a classe política que antes de Lula e
Dilma estava no poder. Pois, esses problemas fazem bem mais que 10 anos.
Estas manifestações claramente têm sido manipuladas
pela direita através da Rede Globo e outras empresas de mídia, para desgastar a
imagem da Presidenta Dilma e do PT com vistas às eleições de 2014.
Pergunto: por que não saíram às ruas na época que o
então Presidente Lula debatia sobre trazer ou não a Copa das Confederações e
Copa do Mundo para o Brasil? Tudo foi feito ninguém protestou. Ao contrário, o
Rio de Janeiro foi só festas pelos investimentos que os eventos trariam. A
mídia não colocou a população contra, porque seria beneficiada com o dinheiro
da publicidade das grandes empresas. Portanto, naquele momento não havia motivo
para ser contra.
Ainda, pergunto: se a preocupação é com o alto custo
das passagens de ônibus, por que não há protestos em frente à sede das empresas
de ônibus que são as responsáveis pelo aumento das passagens? Simples, a mídia
nunca questiona estas empresas porque essas são parceiras, contribuem com
patrocínio em eventos e publicidade paga. Por isso, não há atiçamento por parte
da grande mídia a insuflar manifestantes contra as empresas de transportes
coletivos.
As manifestações, como resposta a esta situação,
deviam ter este enfoque: pressionar os que não querem fazer a Reforma Política
no sentido de tornar as eleições financiadas 100% pela União e proibir o seu
financiamento privado; estabelecer o que pode e o que não pode como publicidade
eleitoral de forma que as eleições deixem de ser um teatro eleitoral, com
candidatos que mais parecem artistas a vender um produto. Assim, o Congresso deixaria de ser a casa das
grandes empresas e bancos e passaria a ser a casa do povo, assim como dita a
Constituição."
Nota do redator: Paulo Medeiros
Texto: João Aurélio
Foto: G1 Paraiba.
Webmaster: Paula Medeiros
1 comentário:
Eu disse no meu texto que estava "fazendo “um bico” para custear o curso que estou a fazer aqui no Rio de Janeiro."
Esclareço que é um bico à brasileiro não um bico à portuguesa :)
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