27.9.07

Isto é Brasil!


Nestlé pede, e Kassab reduz carne em sopa


Por solicitação da Nestlé, que queria participar de licitação, Prefeitura de São Paulo piorou a qualidade nutricional do alimento.


Nutricionistas haviam previsto 7 kg de carne a cada 100 kg de sopa; com a mudança, administração passou a exigir só 0,5 kg.

A pedido da Nestlé, a Prefeitura de São Paulo decidiu reduzir a qualidade nutricional da sopa que pretende distribuir em um programa que irá reunir pais e alunos aos sábados nas escolas e creches municipais.A gestão Gilberto Kassab (DEM) diminuiu a quantidade de carne, frango e verdura exigida na sopa depois de um apelo feito pela multinacional durante uma consulta pública para a compra do produto.

A previsão das nutricionistas do município era que uma das sopas tivesse 7 kg de carne, 2 kg de cenoura e 3 kg de "outras" hortaliças (por 100 kg de sopa desidratada a ser distribuída).

Com a mudança feita diante da manifestação da Nestlé, a mesma sopa deverá ter só 0,5 kg de carne, 0,8 kg de cenoura e 1 kg de "outras" hortaliças.A redução na quantidade de carne, frango e verdura exigida na sopa é condenada pela presidente da Associação Brasileira de Nutrição, Andrea Galante, que também contesta a escolha desse alimento para ser distribuído nas escolas municipais.

"Baixar a quantidade de verduras e hortaliças vai contra aquilo que preconiza a OMS [Organização Mundial da Saúde]. Uma maçã tem os mesmos nutrientes que uma porção dessa sopa, que ainda será servida em uma época de calor."O edital prevê a compra de 750 toneladas de sopa desidratada por mês. O Sábado na Escola está previsto para começar no final de semana.O TCM (Tribunal de Contas do Município), no entanto, determinou ontem a suspensão do pregão que ocorreria hoje para definir a fornecedora.Um dos motivos contestados pelo tribunal foi a exigência de que a entrega da sopa, com embalagem personalizada, começasse no dia 15, três dias depois do anúncio do resultado.

O TCM avaliou que a condição só poderia ser atendida por alguém que já tivesse pronta toda a infra-estrutura para distribuição, algo que abriria margem para direcionamento.

R$ 46 milhões

O TCM também considerou que a prefeitura precisa explicar a razão para a contratação de um único fornecedor do programa. Empresas menores alegam que apenas as grandes do segmento teriam condições de entregar a quantidade exigida.

A Nestlé atualmente mantém contrato com a prefeitura para a distribuição de leite nas escolas, tendo pronta sua estrutura logística de entrega.Tanto a multinacional como a gestão Kassab não quiseram se pronunciar ontem.

O valor total do contrato para a compra da sopa não foi informado pela prefeitura. Só na semana passada, Kassab destinou R$ 46 milhões ao programa.A prefeitura também atendeu a outro apelo da Nestlé: a inclusão de pimenta na sopa com carne, que é produzida pela multinacional.A liberação foi considerada "estranha" pela Pink Alimentos, uma das concorrentes da licitação. Em quase quatro décadas fornecendo merenda escolar no país, a empresa afirma desconhecer outros casos de inclusão do produto.

Nutricionistas consultadas pela Folha também disseram que a pimenta não agrega nenhum valor nutritivo à sopa.

Na sua solicitação para alteração do edital de compra da sopa, a Nestlé alegou que a redução dos componentes permitiria a participação na licitação dos maiores fabricantes do setor, que costumam trabalhar com menor proporção dos referidos nutrientes. Sugeriu, dessa forma, uma formulação mais próxima dos produtos vendidos por ela no varejo.

A Secretaria de Gestão, em resposta à solicitação da empresa, acata a sugestão "a fim de possibilitar a participação do maior número de participantes na licitação", conforme ata obtida pela reportagem.

Texto: Reportagem da Folha de São Paulo

Webmaster: Paula Medeiros

Foto: Paula Medeiros

22.9.07

DIFICULDADES DA IGREJA NO MUNDO ACTUAL



Reproduzo, dada a necessidade de reflectirmos sobre o tempo parado e os recuos do Catolicismo, este artigo de opinião saído em 20.09.2007 no jornal de referência português Diário de Notícias.
Cada vez são mais as pessoas que questionam: para onde nos estão a levar as religiões, com tanta violência e pobreza a espalhar-se pelo planeta? Por quê há pessoas a adorar "santos" de pau e gesso, inventados, que nunca foram pessoas, desobedecendo ao 1º Mandamento de Deus?


Anselmo Borges padre e professor de Filosofia


"Tudo começa com um equívoco. Hoje, quando se fala da Igreja, é numa gigantesca instituição e nos seus altos e médios hierarcas que de facto se pensa: Papa, bispos, padres. Já se esqueceu que, no princípio, não era assim, pois Igreja significava a reunião das Igrejas, entendidas como assembleias dos cristãos congregados em nome de Jesus.

Foi com Constantino e Teodósio que tudo se modificou, quando o cristianismo se tornou religião oficial do Estado e a Igreja acabou por transformar-se numa instituição de poder. Desde então, de um modo ou outro, espreitou o perigo de esquecer a Igreja enquanto comunidade dos fiéis a Cristo, que caminha na fé e na tentativa de actualizar no mundo o reinado de Deus a favor de todos os homens e mulheres, sobretudo dos mais pobres e abandonados, para sublinhar sobretudo uma Igreja-instituição, hierarquizada e poderosa. Quem congrega é menos Jesus do que a hierarquia, e a fé está mais dirigida ao dogma do que à pessoa de Jesus e ao Deus salvador.

Depois, tenta-se o diálogo da Igreja com o mundo. Mas que pode entender-se por isso? Também a Igreja não é de facto mundo, embora mundo a partir de uma determinada visão? Pertencemos todos ao mesmo mundo, ainda que a partir de visões múltiplas e diversas. Mas, mesmo no pressuposto do diálogo, ele torna-se difícil, já que houve rupturas quase insanáveis. Pense-se, por exemplo, que até à década de 60 do século passado se manteve o Índex, isto é, o catálogo dos livros cuja leitura era proibida aos católicos. Aí figuravam não só muitos teólogos, mas também os pais da ciência e da filosofia modernas, figuras eminentes da história, da literatura e do direito: Copérnico e Galileu, Descartes e Pascal, Bayle, Malebranche e Espinosa, Hobbes, Locke e Hume, também Kant, evidentemente Rousseau e Voltaire, mais tarde, John Stuart Mill, Comte, os historiadores Condorcet, Ranke, Taine, igualmente Diderot e D'Alembert com a Encyclopédie e até o Dictionnaire Larousse, os juristas e filósofos do Direito Grotius, Von Pufendorf, Montesquieu, a nata da literatura moderna, de Heine, Vítor Hugo, Lamartine, Dumas pai e filho, Balzac, Flaubert, Zola, a Leopardi e D'Annunzio, entre os mais recentes, Bergson, Sartre e Simone de Beauvoir, Unamuno, Gide. Com o fim do Índex, não terminaram as censuras a dezenas de teólogos, entre os quais Hans Küng, Leonardo Boff, J. Masiá, Jon Sobrino. Como se a Igreja vivesse sob o reflexo do medo de quem ousa pensar. As dificuldades são diversas, tanto ao nível da doutrina como da própria organização. O mundo moderno pôs em causa o princípio da simples autoridade vertical, mas a Igreja tem dificuldade em aceitar a dúvida e argumentar. Ao princípio da democracia a Igreja contrapõe uma monarquia absoluta. Na sociedade civil, aos dirigentes aplicam-se denominações funcionais: ministros, reitores, directores, mas, na Igreja, o Código de Direito Canónico continua com categorias quase ontológicas: são "superiores" e até "superiores maiores", o que implica que os outros são "inferiores". Jesus tinha dito: "sois todos irmãos". Mal um padre é nomeado bispo fica o seu nome próprio precedido de "Dom", abreviatura de "Dominus" (senhor), título senhorial antiquado. Dificuldade maior é a reconciliação com o corpo, com a sexualidade e com as mulheres na sua igualdade com os homens. Do ponto de vista doutrinal ainda hoje causa espanto que o padre Teilhard de Chardin, o cientista que tentou conciliar a fé com uma concepção evolucionista do mundo, continue sob suspeita. Mas como se pode proclamar ainda, no quadro da evolução, a visão tradicional de Adão e Eva e do pecado original? Como é concebível que dois seres apenas semiconscientes tenham cometido um pecado que estaria na origem de todo o mal do mundo? Como é possível continuar a transmitir a ideia perversa de que Deus descarregou sobre o seu Filho na cruz toda a sua cólera, reconciliando-se desse modo com a Humanidade? Este é o nervo da questão: acredita-se, sinceramente, por palavras e obras, que Deus é Amor?"


Texto de introito: Marques Pereira
Gravura de Abraão: A.N.I.
Webmaster: Paula Medeiros

13.9.07

DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO

Depois de alguns e previsiveis dias, aqui encontro-me a escrever novamente.
É evidente que não possuimos nem os equipamentos que tinhamos na Espanha, mas a vontade e o empenho em bem resolver, nos levam a superar os abstáculos.
Encontramos o nosso Brasil com os problemas de sempre e com muita gente lutando para sobreviver. Por outro lado também vimos a mesma alegria e capacidade única no mundo de superação.
Eu e a Paula Medeiros, retornamos ao convívio desta ponde do interior nordestino e aos poucos vamos compartilhando nossa experiência de vida com todos aqueles nos rodeiam.
O impressionante é que alguma coisa na área social foi modificada. O governo do "Lula da Silva" e suas bolsas sociais podem até ter diminuido a fome e a miséria dos menos favorecidos. Entretanto têm proporcionado um aumento da vagabumdagem que toda esmola propicia.
Opiniões a parte, voltamos com orgulho ao nosso país, pois mesmo com todos os defeitos do mundo, é o que temos. Sendo assim, cabe a nós fazer ou tentar as mudanças que se necessita.
O importante é ter a esperança que um dia há de melhorar.
Os grandes impérios caem, e as coisas mudam.

Texto: Paulo Medeiros
Webmaster: Paula Medeiros