23.6.07

CARTA A UMA VIRGEM CASADA COM JESUS CRISTO




Nas religiões tudo é possível acontecer, imaginar e mentir, até celebrar abençoados casamentos, com um morto, de mulheres que se inibem de viver uma vida natural, terrena e em sociedade com a Humanidade que não se inventa nem alimenta de ilusões divinas, celestiais ou paradisíacas.

Qualquer freira tem direito a casar-se com Jesus de Nazaré, sendo ou não virgem. Casar com mortos não é permitido pela Lei de nenhum país, mas na Igreja Católica tal é permitido para que as suas mulheres refugiadas das realidades da vida em conventos e irmandades não se sintam sós e sem um homem para partilhar o corpo, ter filhos, pensar, conversar e fazer amor em secretismo com a sua solidão e cobardia humana.

Esta carta de que vou reproduzir algumas passagens foi escrita por Lucília Serra e veio publicada no tri-mensário “Fraternizar” de Junho, editado por um padre e publicado no norte de Portugal. E porque o faço? Talvez por ser um documento que mostra as distâncias que separam a mulher-Mulher a quem a Igreja viva dá o sacramento do matrimónio e a mulher-Religião que recorre a um casamento imaginário, adúltero e funerário com o Homem com mais de 2000 anos que vem sendo transformado em Deus pelo Catolicismo Romano.

Escreveu a autora: “Era uma moça nova e entrou a falar com tal ardor da sua vocação, do ideal abraçado, da sua entrega ao Senhor, que pela boca dela fiquei a saber que era uma das tais casadas com Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Lucília Serra, defendendo a sua honra de leiga, disse à jovem “esposa” de Jesus:

“Olha, menina, casada sou eu. Recebi o grande sacramento do matrimónio. Quer queiras, quer não, tens um sacramento a menos do que eu! Mas ficando na tua de que és casada com Jesus Cristo, só te digo que arranjaste um partidão. Fizeste um casamento de seda. Arranjaste um marido que, já sabias, não é rabujento, não te mói de pancada nem te dá peúgas para lavar; não gasta o ordenado todo na jogatina ou nas “boites”; não te invade a casa bêbedo; não te põe um par de chavelhos e não foge com outra, deixando a criar meia dúzia de filhos. Não andas de vestido coçado nem de sapatos cambados e chegas ao final do mês sem as preocupações inerentes a uma pobre leiga que tem de pagar a renda da casa, água, luz, alimentação, medicamentos, roupa, calçado, livros, transportes. Não corres o risco de dar-à-luz filhos deficientes, nem te consomes de dor porque são marginais, drogados, ladrões. Nós, as mães a que a Igreja chama “leigas” é que estamos sujeitas a isto”.

“Há tempo falei com uma freira que estivera nas antigas colónias e agora vive roída de saudades porque ”deixou” lá 60 filhos. Sessenta! Eu, leiga pecadora, casada pela Igreja, só tenho três. Mas ela não era mãe de verdade. Ser mãe a sério é coisa diferente”.

“Parece que vives só para guardar a tua virgindade. Mas como é isso possível se casaste com Jesus Cristo, um homem morto que vós considerais vivo ao ponto de casarem com Ele? A virgindade não se reduz a um pormenor anatómico. A verdadeira virgindade está no coração. Não é virgem quem tem o coração atolado de invejas, intrigas e de calúnias e se esquece de amar, porque anda muito ocupada a guardar a sua virgindade.”

“Quando chegares ao Paraíso e o Senhor te perguntar ‘Quem és tu?´, responderás: Eu sou uma das tuas virgens. O Senhor replicará: Isso não interessa; mas se amaste, se fecundaste algo de jeito, se cometeste feitos que me agradem e te deste aos outros és virgem”.

Ser virgem e não amar redobradamente, para que Diabo serve? –assim terminou esta carta de uma cristã-católica que não é virgem, graças a Deus que a mandou não fugir às realidades da vida, viver e “sacrificar” a sua virgindade à continuação da Humanidade.

Marques Pereira

Texto: Marques Pereira

Webmaster: Paula Medeiros

1 comentário:

Anónimo disse...

ser freira não é ser virgem.
Ser freira é dedicar a vida pelos outros, seja através de orações ou trabalhos.
Não é melhor ou pior do que as mulheres que se casam.
São apenas diferentes.
Mas escolheram seu modo de vida, ninguém é obrigada a ser freira.

procure se informar melhor sobre a igreja católica antes de criticá-la.