17.4.11

ESTAMOS NUM TEMPO DE GERAÇÕES À RASCA?


Quanto aos movimentos das ditas “gerações à rasca” recebemos este texto de uma amiga portuguesa que nasceu em França, filha de emigrantes do Alto Minho. Acho que serve plenamente para uma reflexão sobre os jovens que se estão revoltando por quase todo o mundo, inclusive aqueles que foram ensinados e preparados para obedecer de forma cega e fanaticamente às ditaduras religiosas.



"A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.


Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.


Numa terriola do Minho, as condições de vida não eram as melhores, mas o meu pai não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.


Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, já se encontrava. Mais tarde veio o irmão mais novo.


Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.


Recusando-se ser uma “geração à rasca” fizeram uma coisa muito simples: foram trabalhar.


Não havia condições para fazer o que sabiam e gostavam.


Não ficaram à espera. Foram taberneiros. Foram carvoeiros. Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.


Foram simples empregados de tasca.


Mas pouparam. E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.


Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.


Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.


Porque sempre acreditaram neles próprios.


E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas, sempre tivemos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro. Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.


E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.


Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.


Não preciso das ajudas do Estado, porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.


Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.


Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Preciso de mim. Só de mim. E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca. Porque me desenrasco. Porque sempre me desenrasquei.


O mal desta auto-intitulada “geração à rasca” é a incapacidade que revelam.


Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada. Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido. Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade… Sentem-se desiludidos quando se encontram com as realidades da vida de trabalho e realização pessoal.


A culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas. Mas não é.


É altura de os jovens aprenderem a ser humildes.


É altura de fazerem opções.


Podem ser "encanudados" de qualquer curso, mas não encontram emprego "digno".


Podem ser "encanudados" de qualquer curso, mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.


Experimentem dar tempo ao tempo e, entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.


Mexam-se!


Trabalhem!


Procurem ganhar dinheiro suando e sendo honestos com os outros e vós próprios!


Numa loja de um “shopping”, porque não ?


Aaaahhh… porque é “doutor”, ao balcão de uma loja de Shopping não dá status social. Não. Mas dá algum dinheiro para despesas e divertimentos pessoais.


E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno", o tal que dá “status”.


O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.


Eu, que sou Informática, System Engineer, em alturas de aperto vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc..


E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecida socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.


Geração à rasca ?


Vão trabalhar que isso passa!”




Texto postado por Marques Pereira


Foto:


Webmaster: Paula Medeiros




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