21.7.13

100 ANOS DE VIDA: VIVER A SOFRER É ESTAR A MORRER


É a primeira vez que comemoro com alguém os seus 100 anos de vida. Um século! São muitos anos a andar, falar, amar e realizar neste planeta. 

A minha amiga Ana é uma alentejana, produto humano do trabalho da terra de uma vila no interior do Alentejo, onde o bom vinho tinto é famoso e o milho alimentar gostam muito de ser produzidos.

Teve sete filhos, pois naquele tempo ter muitos “rebentos” era ter mais braços para trabalhar para o sustento, economia e riqueza da família. Os seus descendentes já lhe deram netos, bisnetos e trinetos.

A D. Ana é uma mulher de boa memória, inteligente, lúcida, voz aberta e clara como um ribeiro a espelhar as árvores, atenta e crítica, não sendo como alguns idosos que pensam que tudo lhes vem do céu e só conversam em doenças e banalidades. Ela acompanha a vida da sua vila, do país, discute e até sugere soluções para os problemas políticos e sociais. É uma verdadeira matriarca e portuguesa produto das planícies a perder de vista do Alentejo.

 Mas quem a ouve a D. Ana? Quem presta atenção aos velhos de idade e corpo, se não alguns familiares que não esquecerem de que raiz e árvore genealógica nasceram. E um homem como eu que ela escolheu como um amigo que escuta a sua voz bem audível, sonante, do tempo passado e atual.



Neste último encontro, ela confessou-me: “Marques Pereira não se iluda nem considere este meu aniversário uma alegria por chegar aos 100 anos de vida, porque viver a sofrer não é viver. Uma pessoa quando começa a perder a visão, a audição e o movimento das pernas sofre muito, começou a perder tudo, porque a liberdade que nos dão estes três órgãos são vitais para nos sentirmos vivos, alegres, felizes, livres. A minha família e os meus amigos e amigas podem estar contentes por ver alguém chegar aos 100 anos, mas esquecem-se que já somos tão dependentes dos outros que deixamos de ser nós e já andamos por cá como uns vivos-mortos…”.

Eu já há muito tempo que penso que o Ser Humano devia ter um limite de vida: 75 anos. É o suficiente, mas com olhos que vejam, ouvidos que ouçam, dentes que mastiguem, cabeça que pense, alma que tenha coragem para dizer à Morte, que é o fim da Vida que jamais volta, “Podes levar-me que já vivi o que tinha a viver e reencarnar para dar e deixar vida à Humanidade…”.




Texto: Marques Pereira (21.Julho.2013)
Fotos: Marques Pereira

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