1.12.13

Realidades diferentes



Devido a oportunidade que a vida me deu de ter vivido nos dois lados do oceano, pude como poucos a condição de comparar, observar e até tirar conclusões sobre o que é viver na América latina e Europa.

Devido a esta condição sempre me foi perguntado, em varias ocasiões onde era melhor viver. Evidentemente muito das respostas depende invariavelmente das circunstancias e de como elas ocorrem, mas de uma maneira ampla é possível ter algumas definições.

E é sobre estas realidades definidas que hoje quero falar, principalmente em um momento em que a crise econômica que assola Portugal, se houve muito perguntar se vale a pena viver no Brasil e ao contrario saber se um brasileiro tem chances em Portugal.

Uma coisa é certa para qualquer um dos lados, entrar em um avião e seja lá o que Deus quiser, não é recomendável pois a possibilidade de dar errado é muito grande. Esse tempo só foi possível entre os anos de 1990 a 2000, quando Portugal estava usufruindo das facilidades de ter entrado na comunidade europeia. Nesse período se verificou que o país se transformou em um canteiro de obras, e assim algumas profissões carentes como pedreiros, faxineiros, e auxiliares de serviços gerais tiveram de ser importados, incluso ai brasileiros de baixa formação. Na outra ponta da pirâmide, também profissões mais especializadas como médicos também tiveram oportunidades em Portugal.

Convém acrescentar que neste mesmo período, juntou-se a esta leva de trabalhadores, o que chamamos de lixo brasileiro, que foi muito ruim para todas as relações, quando começaram a ir as prostitutas, os drogados etc. Estas pessoas na verdade mancharam bastante o estereotipo dos brasileiros.

Mas este período já é passado muito embora tenha deixado cicatrizes profundas que um dia espero possamos superar. Mas vamos aos fatos, quem imigra sempre o faz esperando encontrar uma vida melhor, mas há muitos enganos quando a concepção cultural nos leva a uma decisão errada. Deixe-me ser claro, e para que o leitor tenha melhor entendimento vou exemplificar através de uma palavra simples que é pobreza. Ser pobre no Brasil é completamente diferente do que em Portugal . Ser pobre no Brasil é geralmente estar realmente e literalmente a margem da sociedade, é não ter a menor condição básica, é não ter as refeições do dia, é não ter onde morar, é não ter a esperança do que há de vir. É no máximo receber uma dessas bolsas sociais, cujo dinheiro quase para nada dá e a maioria das vezes se confunde com a palavra miserável.

Ser pobre na Europa é diferente, claro que na nossa península ibérica tem ate mais dificuldades, mas não chega jamais ao que se tem abaixo do equador. assim se explica como imigrantes do leste, da américa do sul acham maravilhoso ocupar as funções que os europeus ricos não querem. Acham maravilhoso porque com o mínimo por pior que seja há também o mínimo de dignidade. Assim se explica como médicos da Ucrânia trabalhavam na construção civil e em outras funções.

E nos dias atuais, mesmo falando que o Brasil voltou a proporcionar oportunidades, não se enganem pois pode ate ter algumas oportunidades , mas levaram a paz, pois a violência campeia e se mata até por um misero tele móvel. As casas estão todas cercadas de cercas elétricas e ate para se tirar o carro da garagem, corremos riscos antes de chegar ao portão.

Que riqueza pode valer a pena se não podemos nem fotografar o nosso por do sol lindo, porque um vagabundo pode aparecer para levar nosso equipamento. Será que isto é só impunidade, não, isto também é porque passamos anos a fio sem cuidar da educação de nosso povo.

O pensamento de levar vantagem em tudo, é como o tiro que saiu pela culatra e é ate pior porque hoje nos envergonha. Assim, sair do Tejo esperando encontrar um Portugal nos trópicos, isto tem de ser visto com muito cuidado. As oportunidades são para funções especificas como engenheiros, diretores etc. Esses encontram com certeza um lugar ao sol e com salários bem superiores aos da península. Mas terá de aprender a viver em uma terra de contrastes que pode até trazer fortuna, mas vai criar dentro de seu interior a mesma pergunta de sempre

Vale a pena?
 
 
Texto de Paulo Medeiros
Foto: Mateus da Rosa
Webmaster: Paulo Medeiros


1 comentário:

joao aurelio disse...

Para mim, o que foi bom em Portugal:
- Algumas boas amizades;
- Ampliação da minha percepção política (Ex: sem ser economista nem cientista político nem ter nenhuma graduação, eu dizia aos amigos que me eram próximos:
- Preparem-se pra crise! Já vi este filme no Brasil (nos tempos de Fernando Henrique...);
- As dificuldades me ensinaram a ser mais combativo;
- Voltei com uma sensação de que todo pai devia pegar o filho e mandá-lo pra algum lugar pra "se virar", pra aprender com a vida.