16.2.07

ESCREVER E LER PARA SABERMOS EXISTIR

Escrever é como falar. E se a falar mostramos que existimos e podemos comunicar uns com os outros e entendermo-nos, embora nem sempre, a escrever podemo-nos afirmar através do contacto com a informação, o esclarecimento, a opinião e a crítica, se soubermos ler e interpretar as palavras de quem escreve e dos que falam e não escondem a sua voz no silêncio.

Mas há quem saiba escrever e não sabe falar, mesmo que falem muito para dizer nada, o que também se pode encontrar nas pessoas que escrevem a “mastigar” palavras e mais palavras, abordando coisas e loisas que não informam nem agitam o pensamento e a opinião do alvo que são os leitores.

Escrever num jornal não é o mesmo que escrever um livro, um manual, um missal, uma reza ou uma bajulação religiosa onde todas as mentiras mentais e espirituais se podem “consagrar” com o objectivo de chegar à cabeça do bem-aventurado povinho meio analfabeto que vê, mas não sabe o que dizem nem porque foram escritas tais palavras.

Num jornal escrevem-se notícias, opiniões, críticas, comentários, poesia, anúncios. Um livro lê-se e depois guardamo-lo numa prateleira. Um jornal é como uma história contada por vozes lidas e ouvidas todos os dias pelos títulos que mais nos despertam a atenção. Depois atiramo-lo para o lixo, não voltamos a vê-lo nem a ler. Mas algo fica em nós: mais conhecimento, cultura e opiniões melhoradas e actualizadas.

Há parolos religiosos que guardam os jornais, pois vivem na ilusória e demente convicção de que a maquiavélica e assassina Santa Inquisição Católica voltará um dia e os autores cristãos-católicos progressistas, sem medo de escrever a Verdade, serão julgados pelas “hienas inquisidoras” de uma religião de velhos que parou no tempo e se vai esvaziando de crentes, seguidores e sacerdotes, pois novos crimes imorais e cívicos surgiram na vida de alguns clérigos e as ilusões do paraíso do Céu ficaram mais cinzentas.
Vejamos o que escreveram homens e mulheres com o pensamento livre de pressões e convicções religiosas e políticas:

Escrever e ler é um acto de Liberdade.
-Martim Amis, escritor inglês.

Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio Você coloca ideais.
-Neftali Ricardo Reyes Basoalto (Pablo Nerruda), escritor, poeta e diplomata chileno, Prémio Nobel:

Escrever é, simplesmente, uma maneira de falar sem que nos interrompam.
-Sófocles, escritor e dramaturgo grego.

É preciso escrever o mais possível como se fala e não falar demais como se escreve”.
-Saint-Beuve, escritor e crítico francês.

Somos todos escritores; só que uns escrevem e outros não.
–José Saramago, escritor português, comunista, Prémio Nobel.

Escrever é ter coisas para dizer.
-Darcy Ribeiro, romancista e professor brasileiro.

Reescrevi 30 vezes o último parágrafo do meu livro “Adeus às Armas” antes de me sentir satisfeito.
–Ernest Heminguay, escritor norte-americano.

Quem não lê não escreve.
-Wander Soares, educador e editor brasileiro.

Escrever é uma forma de a voz sobreviver à pessoa.
-Margaret Eleanor (Peggy Arwood), escritora canadiana.

Corrigir uma página é fácil, mas escrevê-la (ah, meu amigo!) isso é difícil.
-Jorge Luís Borges, poeta argentino.

Escrevo para que os meus amigos me amem ainda mais”.
Gabriel Garcia-Marquez, escritor colombiano, Prémio Nobel de Literatura.

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois é burro.
-Mário de Miranda Quintana, poeta, escritor e jornalista brasileiro, que aprendeu a ler tendo como cartilha escolar o jornal “Correio do Povo”.

Podia terminar aqui este texto sobre o que é escrever, mas ainda vou citar quatro versos do poema “Não sei quantas almas tenho”, de Fernando Pessoa, porque quem escreve num espaço aberto a todos e a várias mentalidades não deve fazê-lo só para si nem para um só leitor. É na diversidade da nossa escrita que reside o interesse de os outros lerem, querer conhecer e saber mais do que nós próprios sabemos:
Anoto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo “Fui eu?”
Deus sabe porque o escreveu…

Cora Coralina, poetisa brasileira da Língua Portuguesa, escreveu:
Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser um colo que acolhe
Um braço que envolve
Uma palavra que conforta.
Isto não é coisa de outro mundo
É o que dá sentido à vida!

Olhando para a vida dos portugueses que não escrevem, não falam, não levantam a voz, vivem quedos e mudos; que não dão um murro na secretária dos governantes locais e nacionais; que continuam a ler as lengalengas do tempo de Abraão e Moisés; que não agitam ninguém para as tristes realidades; que vão atrás do risonho bla-blá dos políticos exploradores do Povo… Assim “indo”, como querem ter um País melhor do que este, sempre pobre, atrasado, mal ensinado, um ninho de corruptos, um “clube de senhores ladrões” subsidiados e protegidos pelo Estado?

E não será isto, ou pior, o que está a acontecer no Brasil, onde a corrupção e as muitas religiões importadas e exportadas são a causa e o “progresso sustentado” de uma nação que, em grande percentagem, se vê obrigada a emigrar para sobreviver, fugir ao medo que a droga e violência urbana causam, à pobreza, fome e assassínios que são frutos da criação da Política e da indiferença dos que vivem e lideram à custa de Deus?

Todos podemos escrever o que pensamos e opinamos uns para os outros. E ser lidos, se não escrevermos para um umbigo anafado e malcheiroso de tanto esquecer que uma mente aberta pode ser mais verdadeira do que uns olhos fechados às muitas realidades e às mentiras com que querem que continuemos a viver como uns mansos, calados, obedientes, incultos e eternos pobres coitadinhos do mundo...

Texto de MARQUES PEREIRA
Foto de
Webmaster: Paula Danielle Medeiros

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