24.3.07

RIO SÃO FRANCISCO


Este rio , um dos mais importantes do Brasil, é hoje no noticiário mundial bastante falado devido a um mega projeto de desviar-se parte de suas águas para o semi-árido Nordestino e consequentemente minimizar os efeitos prolongados da estiagem . Assim, há a corrente dos favoravéis e os que são contra. Bem, antes de continuar no assunto vamos conhecer um pouco do rio:

Foi descoberto em 4 de outubro de 1501, pelos viajantes Américo Vespúcio e André Gonçalves. Os índios que habitavam a região chamavam-no de Opara, que significa rio-mar. Recebeu o nome de São Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, nascido na Itália 319 anos antes do seu descobrimento.

Ele nasce na serra da Canastra no município de Piumi, oeste de Minas Gerais e desemboca na Praia do Peba no estado de Alagoas. É conhecido também como Rio dos Currais por ter servido de trilha para transporte e criação de gado na época colonial, ligando a região Nordeste às regiões Centro-Oeste e Sudeste.

É considerado o terceiro maior rio do Brasil, possui 3.163 quilômetros quadrados de extensão e sua bacia possui 640.000 quilômetros quadrados de área, o que eqüivale a sete vezes o país de Portugal.

Apesar da euforia dos nordestinos brasileiros, o projeto é muito contestado por ecologistas , especialistas e ate mesmo estudiosos muito conhecidos. Quero destacar a carta que do Frei leonardo Boff enviou recentemente ao Presidente Lula da Silva:



"O governo, através do Ministério da Integração Nacional, declarou que "vai
sair do campo da retórica" e já vai proceder a licitação das obras, orçadas
nesta etapa em R$ 100 milhões, em vista da transposição do rio São
Francisco. Derrubadas as liminares na Justiça, dissuadido o bispo que fez
greve de fome, Dom Luiz Flávio Cappio, e com o discutível aval do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama),
pretende o governo realizar agora a transposição. O argumento de base é
emocional: "não se pode negar uma caneca de água a 12 milhões de vítimas da
seca".

É exatamente no afã de dar água ao triplo de vítimas da seca que se deve
questionar o projeto. Baseio meus dados num artigo do respeitável jornalista
Washington Novaes publicado no dia 23 de fevereiro em O Estado de S.Paulo –
"Um novo desfile e a mesma fantasia" – e em outras fontes.

O apoio principal do projeto foi dado pelo Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, onde o governo federal, sozinho, tem a maioria dos votos. Ao
contrário, grandes especialistas na área, como os professores Aziz Ab´Saber
e Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo, Abner Curado, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco,
mostraram que o problema no semi-árido é mais de gestão do que de escassez.

A Agência Nacional de Águas (ANA) mostrou que é possível abastecer os
municípios sem precisar da transposição do rio. O IBAMA, que deu o aval,
forneceu, sem querer, argumentos contra o projeto. Reconhece que 70% da água
seriam para irrigação e 26% para o abastecimento de cidades; que a maior
parte da água transposta iria para açudes onde se perde até 75% por
evaporação; que 20% dos solos que se pretendia irrigar "têm limitações para
uso agrícola"e "62% dos solos precisam de controle, por causa da forte
tendência à erosão".

O Tribunal de Contas da União diz que o projeto não beneficiará o número de
pessoas pretendido. Efetivamente, as comparações entre os projetos do
governo e da ANA, feitas por Roberto Malvezzi, bom conhecedor da bacia do
São Franscisco, mostrou que o do governo custaria R$ 6,6 bilhões, atenderia
apenas a quatro estados (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará),
beneficiando 12 milhões de pessoas de 391 municípios, enquanto o projeto da
ANA custaria 3,3 bilhões, atingindo nove estados (Bahia, Sergipe, Piauí,
Alagoas, Pernambuco, Rio do Norte, Paraíba, Ceará e Norte de Minas),
beneficiando 34 milhões de pessoas de 1.356 municípios.

O próprio Comitê de Gestão da Bacia, que conhece bem as questões do rio, foi
por 44 votos a 2 contra a transposição; diz ainda que esta atende a menos de
20% do semi-árido e que 44% da população do meio rural continuariam sem
água.

São razões de grande peso.

Se o governo quiser efetivamente levar água aos sedentos do Nordeste, deve
reabrir a discussão pública ou então encampar o projeto da ANA. Caso
contrário, podemos contar com nova greve de fome do bispo. Entre o povo que
não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas,
ele ficará do lado do povo. E irá até o fim. Então a transposição será
aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico.

Estará o Governo disposto a carregar esta pecha pelo futuro afora?".


Texto e pesquisa : Paulo Medeiros
Webmaster: Paula Medeiros

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