19.4.08

FIM DOS DIVÓRCIOS LITIGIOSOS EM PORTUGAL





Quem se divorcia é porque não suportou mais viver com o cônjuge, mulher, homem, lésbica ou gay. É uma verdade entre muitas outras que existem num contrato de casamento civil com ou sem bênção e cerimónia religiosa.

Por muito que digam os contratos de casamento perante o Estado e as promessas que os noivos proferem nos altares da Igreja, a maior de todas as verdades humanas é aquela que afirma que ninguém é de ninguém.

No casamento, portanto, está errado a mulher chamar o cônjuge de “meu marido” ou “meu homem”; e também não está certo o homem chamar à esposa “minha mulher” ou “minha cara metade”.

O casamento não é nem pode ser um acto de posse ou de tirar a liberdade pessoal a uma mulher ou homem.

Consequentemente, todos deverão ser livres de desmanchar o que o Estado e a Religião quiseram impor para o resto da vida das pessoas.

E assim nasceu o divórcio, a separação, chamem-lhe o que quiserem.

Todos os divórcios e separações são maus para os filhos, mas se o pai e a mãe que resolveram acabar com o casamento os amarem e continuarem a prestar-lhes assistência, educação, amor, atenção e responsabilidade, a vida deles prosseguirá o melhor possível.

Leia-se este entrevista com a psicóloga Maria Jesus Alava Reyes:“Quase metade dos casamentos terminam em divórcio. O que é que mudou para isto acontecer?Há cada vez mais divórcios de pessoas com 50 e 60 anos que deixam de trabalhar, têm de estar juntos 24 horas por dia e não se suportam.
E depois há divórcios entre os mais novos, que talvez se juntem demasiado rapidamente e criam uma falsa realidade, confundindo a atracção inicial com o enamoramento e o amor. Quando passa a novidade e começam a partilhar os momentos menos agradáveis, pensam que terminou o amor.
Muitos não estão habituados a conviver partilhando. São egocêntricos, pouco flexíveis, um pouco egoístas. Sobretudo conhecem-se muito mal e estão pouco habituados a enfrentar dificuldades. Não estão acostumados a lutar e acham que se enganaram.Como é que não nos conhecemos uns aos outros?A verdade é que as crianças hoje têm menos irmãos, rapazes e raparigas convivem juntos mas como se fossem extraterrestres. Não se conhecem de facto. As mulheres, por exemplo, queixam-se da falta de comunicação mas os homens não precisam tanto de falar quanto nós. E a afectividade também é muito distinta; achamos que eles só pensam em ter relações sexuais, mas eles têm dez vezes mais carga de testosterona do que nós.A biologia é tão importante?Durante milhões de anos as funções de homens e mulheres foram diferentes e isso fez com que geneticamente os homens se tenham tornado mais especializados, porque se dedicavam à caça ou à guerra e ou estavam muito atentos ou morriam, enquanto as mulheres tinham que fazer muitas coisas ao mesmo tempo, tratavam da casa, dos filhos, da agricultura. Isso tem influência. Os cérebros são diferentes.Mas se um homem não acorda de noite com o choro do filho, isso também tem uma explicação?Pode parecer uma boa desculpa, mas é verdade. Por isso é que é importante conhecer as diferenças. Se nos conhecêssemos melhor não seria tão complicado. Chateamo-nos pedindo uns aos outros coisas que não são razoáveis. Por exemplo, após uma discussão. O homem pensa que a mulher o está a castigar ao não querer ter relações, porque para ele naquele momento ter relações é uma possibilidade de resolver a situação. A mulher sente-se usada: como é possível que ele queira sexo em vez de conversar?O sexo é importante?O sexo é importante e nos últimos anos as expectativas mudaram muito. A maioria dos homens não foram educados para satisfazer as mulheres e para ter uma sexualidade partilhada e isso fá-los sentir-se muito inseguros. As mulheres estão a exigir e a dizer-lhes que eles não fazem bem e, na verdade, eles nunca foram preparados para isso.Se somos tão diferentes, como é que podemos viver juntos?É muito bom que homens e mulheres sejam diferentes porque se complementam. O problema é quando não coincidem no essencial, não têm os mesmos valores. Tem que haver uma base comum.”

Exigir que duas pessoas que vivem juntas tenham uma base comum é tirar-lhes a liberdade de se sentirem com uma individualidade. Isto é o que muitos maridos e esposas não sabem cultivar na vida a dois, acabando na separação ou num divórcio irreversível.

E não esqueçamos que, gozando do seu direito à liberdade de ser pessoa humana, o homem e a mulher recorrem ao sexo fora do casamento, o que, embora o fazendo um e outra, nem ele nem ela aceitam essa “traição”, esse “adultério”.

Mas o que se queria dizer aqui é: em Portugal já não é necessário haver culpa de um dos cônjuges para se divorciarem. O casamento dissolve-se como um qualquer contrato de fornecimento, serviço ou aquisição. O resto, a parte económica e parental gerada no casamento, será repartido entre os ex-conjuges e esta nova Lei muito aplaudida por todos e mal-querida pela Igreja Católica e os seus seguidores mais conservadores e parados no tempo.

Na Europa há países mais avançados no “divórcio na hora” do que em Portugal.

E o que se passa no Brasil com tantas religiões a querer tirar a liberdade de viver, casar e descasar às pessoas?

Texto de Marques Pereira
Foto: A.N.I.
Webmaster: Paula Medeiros


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