23.10.10

A Minha Decepção Existencial,Filosófica e Religiosa Com o Espiritismo PARTE I


Há algum tempo escrevi aqui sobre a diversidade religiosa no Brasil. Hoje, continuando sobre o mesmo assunto trago um texto de autoria de Jaime Clementino Junior, onde o mesmo relata de maneira detalhada sua decepção com o espiritismo Kardecista, que na atualidade tem mais adeptos do que mesmo na França onde o movimento iniciou.

Nos primeiros meses deste ano pus fim aos meus 23 anos de permanência no movimento espírita, onde adentrei com apenas 16 anos de idade.

Alguns amigos ficaram surpresos, parentes e conhecidos também ficaram com reações bastante peculiares devido ao meu conhecimento razoável do assunto, logo eu que cheguei a possuir mais de 160 obras da tal religião.

Portanto não era apenas mais um kardecista a deixar o movimento, mas alguém que ali chegou ainda muito jovem e saiu com 40 anos de idade, tendo muito o que contar sobre tal metamorfose existencial e filosófica.

Por sugestão do velho amigo Pedro Paulo Medeiros, resolvi escrever alguma coisa, o que ainda vai levar muitas linhas, se eu for esmiuçar a importância do individuo a se precaver contra aquela religião de características verdadeiramente hipnóticas, que apela sempre para respostas relativamente fáceis e não refletidas, apesar de seus seguidores dizerem ser ela “a fé raciocinada”.

A minha ilusão começou logo que ali entrei, como disse, com 16 anos de idade. As promessas são muitas, chegam mesmo a acreditar piamente no seu codificador, Allan Kardec, francês da cidade de Lyon, autor, dentre outros livros, do “Evangelho segundo o espiritismo”, escrito por ele, obra concluída em 1864. Por sinal há um texto (meu Deus, que ingenuidade) ainda hoje muito acreditado pelos espíritas, de que a Doutrina Espírita é o “Consolador” prometido pelo Senhor Jesus Cristo no evangelho de João, capítulo 16, versos 5-15.

Passei por todas as fases dentro do movimento espírita. Primeiro vem uma grande ilusão cheia de esperanças de um mundo melhor e de uma vida melhor depois da morte. Mas as lideranças bem que nesta fase inicial escondem bem as suas garras, para depois descobrir a pessoa que ingressou em um ambiente onde será levada a efeito uma verdadeira tiranização da sua consciência e da sua vida.

Vocês lembram do “pastor” norte-americano Jim Jones? Aquele, que em 1978, na antiga Guiana Inglesa mandou seus seguidores se envenenarem para obter o Reino dos Céus? Ainda vou demonstrar as semelhanças entre aquele facínora e as lideranças espíritas brasileiras. Ambos os exemplos visam a dominar vidas e pensamentos, jamais libertando-lhes a consciência, levando-os a acreditar numa vida de bem-estar – pelo contrário, submetem os seus seguidores aos condicionamentos mais constrangedores e a uma quase lavagem cerebral.

Já ouviram falar da mediunidade e dos médiuns? Mediunidade é a “capacidade” da pessoa entrar em contato com os espíritos dos mortos fazendo as chamadas “comunicações mediúnicas”. E as pessoas que praticam a mediunidade são chamadas de médiuns. Com uma séria gravidade: uma médica bastante competente na minha cidade havia me explicado dos perigos da mediunidade sobre a saúde, tais como o envelhecimento precoce, sujeição a uma vasta série de doenças, problemas pessoais e mesmo problemas de caráter psiquiátrico. E depois que eu descobri que a maioria dos “médiuns” tomam (ou já tomaram em grande quantidade) medicamentos psiquiátricos foi que mais do que nunca que eu vi a barbaridade que é a tal prática da mediunidade. E quase toda instituição espírita tem ligado a seus serviços um ou mais médicos, com inscrição no Conselho Regional de Medicina e no Conselho Federal de Medicina. Tais médicos espíritas tem até mesmo as AMECs (Associações Médicas Espíritas). São profissionais até de certa competência nas suas especialidades, mas no mínimo distraídos demais quanto aos perigos da mediunidade. É de se suspeitar até mesmo de má-fé dos referidos médicos. Por sinal o próprio Allan Kardec diz que foi médico, e diz isto no livro “O que é o Espiritismo”. E nesta mesma obra ele diz que ela deve ser a primeira obra espírita a ser lida pelo interessado no assunto, recomendação esta pouco ou nunca divulgada nos meios espíritas brasileiros.

Um médico como Allan Kardec... Vocês não calculam o que ele pode fazer com a vida de uma pessoa.

A médica por sinal citou nomes (que eu prefiro omitir) de pessoas conhecidas nacionalmente que envelheceram precocemente e quando idosas, ficaram sujeitas a muitas doenças.

A prática da mediunidade é um verdadeiro adestramento para a pessoa entrar no mundo da loucura. E tem um livro escrito por Francisco Cândido Xavier (mais conhecido como Chico Xavier) e um médico colega dele, chamado Waldo Vieira, que se intitula “Mecanismos da Mediunidade”, que ignora o que nós, estudantes de filosofia, chamamos de Teoria do Conhecimento. Diga-se de passagem eu estou cursando o terceiro ano do Curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba.

No segundo ano do Curso de Filosofia temos um componente curricular anual chamado Teoria do Conhecimento, onde estudamos, entre outros autores, o filósofo inglês John Locke, mais particularmente um texto intitulado “Nem os princípios nem as idéias são inatas”.

Locke descreveu pormenorizadamente como se processam os pensamentos e as ilusões dele decorrentes, inclusive uma vasta série de condicionamentos.

Isto aconteceu ano passado. Por sinal desde o ano de 2006 eu vinha lendo os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, na tradução de Huberto Rohden.

Quem nos incentivou a fazer tal leitura foi um professor do Curso de Odontologia da cidade de João Pessoa, Dr. Severino Celestino da Silva, kardecista ainda hoje, conhecedor do idioma hebraico e que começou a enfatizar no movimento espírita o estudo das traduções bíblicas; por sinal ele escreveu dois livros competentes sobre o assunto.

Ele é um bom exemplo de espírita, já o conheci no movimento, pois moro numa cidade 120 quilômetros distante de João Pessoa, cidade onde ele vive. E eu já vinha insatisfeito com as insuficiências filosóficas dos livros espíritas. Por pouco não saí definitivamente do movimento espírita no mesmo ano de 2006, quando comecei a levar a sério as traduções bíblicas, e comecei a fazer a leitura dos quatro evangelhos na tradução de Huberto Rohden, que era professor de filosofia e jamais chegou a ser espírita, como dizem alguns erradamente.

Naquele ano eu havia descoberto que os dirigentes da instituição espírita que eu freqüentava ingeriam bebidas alcoólicas “socialmente”, como se costuma dizer no Brasil para quem só se alcooliza nos fins de semana, o que não é permitido mesmo pelos padrões do espiritismo. Foi a minha primeira grande decepção, como se não bastasse o autoritarismo do dirigente dali.

O estudo na Universidade de John Locke, Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Aristóteles, Kant, tudo isto adicionado às leituras que eu fazia dos quatro evangelhos todas as noites terminaram por me afastar do movimento espírita, quando eu vi que o espiritismo não tem herança filosófica nenhuma, e que adicionando os referidos filósofos ao que disse Jesus, conforme os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João, tudo isto somado resultou na minha libertação das amarras hipnotizadoras do espiritismo.

Texto: Jaime Clementino de Araujo Junior

Nota explicativa:Paulo Medeiros

Webmaster:Paula Medeiros

Foto: Internet

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