2.10.11

DE QUANDO VIVI NA PENÍNSULA (II)


A Indústria Do Sexo

Por João Aurélio

Esta semana tive a ler na ótima revista “Carta Capital” alguns artigos sobre o preconceito com relação às brasileiras em Portugal.

Um dos artigos falava sobre uma prostituta brasileira chamada Gina, personagem de banda desenhada que é apresentada na RTP2.

Várias ongs estão a cobrar das autoridades portuguesas que a tv estatal retire do ar o programa por insuflar o preconceito à figura da mulher brasileira, inclusive, “avaliando a possibilidade de fazer uma denúncia às autoridades da Comunicação Social de Portugal” , como diz a revista.

Em Portugal existe uma inconsciência completa sobre o que é a mulher brasileira, sobre seu comportamento e seus valores. E digo que isto não é culpa do povo português, mas sim de quem insufla, estrategicamente, o preconceito na mente dos portugueses.

Lembro-me, de certa vez um amigo português, o Rodrigo(1), me falou sobre um amigo dele que foi a Natal/RN de férias, e ao chegar ao aeroporto fora recebido por prostitutas. Ele quis me convencer que qualquer pessoa que for de férias para Natal, teria a mesma recepção.

Deu trabalho para fazer o Rodrigo entender que o tal amigo só tivera “tão calorosa recepção” porque agendara com antecedência o encontro, pois, no Brasil não se encontra prostituta em qualquer sítio.

Rodrigo falava do Brasil como se ele, que nunca fora ao país, o conhecesse mais que eu. Ele tentava me convencer que em qualquer lugar se podia encontrar companhia fácil, pois fora isto que ouvira do seu amigo.

O pensamento de Rodrigo é a síntese do que pensa boa parte dos portugueses sobre as brasileiras. Entretanto, a sociedade portuguesa não nasceu pensando isto. Esta idéia foi estrategicamente plantada.

Das várias vezes que tive oportunidade de conversar, com portugueses, sobre os motivos de haver tanta prostituta verde amarela em Portugal, as pseudo-razões que ouvi é que “a mulher brasileira é mais quente”; que “têm sangue indígena”; “o país é mais liberal”, etc. Nunca vi alguém colocar como razão que há tráfico de mulher, que há cooptação de pessoas, que há uma indústria da prostituição na Europa e há um braço dessa indústria em território português.

Para os grandes “empresários” que aliciam essas prostitutas latinas (como também as prostitutas do leste da Europa), é mais saudável para seu negócio que seja colocado na cabeça das pessoas os motivos acima citados, do que deixar que as pessoas vejam a realidade do tráfico de gente.

As pessoas quando falam sobre o assunto, nem citam o tráfico. Elas falam como se o ato de se prostituir fosse o natural dessas mulheres.

É óbvio, também, que muitas delas não são ingênuas. Elas sabem o porquê vão para a Europa. Estas procuram os agenciadores. São as prostitutas profissionais.

Mas, também, é verdade que existem muitas que vão com promessas de trabalho legal e são enganadas e postas à mercê da “indústria do sexo”.

Num restaurante que trabalhei, falava-se de uma cliente que viajava constantemente para “contratar” como prostitutas mulheres do norte do Brasil.

Por isto, esse problema do preconceito com relação às mulheres brasileiras em Portugal e Europa no geral, só será vencido quando for encontrada a maneira de conseguir desarticular a indústria do sexo, porque prostitutas “sempre as tereis convosco”...

(1) Rodrigo é um nome fictício.

A sociedade brasileira, rejeita a idéia transmitida pela comunicação social portuguesa de que a mulher brasileira seja apresentada com este estereótipo. Até mesmo porque não condiz com a verdade, além de ser uma tremenda injustiça.

A foto acima é da Ribeira (Porto), onde afluem diariamente muitas prostitutas.......De muitas nacionalidades

Texto: João Aurélio
Foto: João Aurélio
Webmaster: Paula Medeiros

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