6.10.07

CHAMAM-LHE “SENHORA DA VINHA E DO VINHO”


Tenho que escrever isto mais uma vez, porque a memória de muitas pessoas é fraca: as religiões servem para tudo, até para facilmente fazer uma “santa”.

O povinho imagina, os clérigos criam ou abençoam e a “santa” é moldada em pau, gesso, pedra, bronze e poliéster, um dos muitos e diversificados sucedâneos que se extraem do petróleo bruto.

Depois inventam-se “milagres”, dizem-se mentiras, faz-se uma “santa” publicidade, nasce a “fé” e surgem os ajoelhados, as rezadoras e os papalvos que dão esmolas à “santa” para alimentar as igrejas que alojam as ditas e a clericalagem que vive deste “sagrado” negócio da “santidade” dada a estátuas, estatuetas e esculturas feitas por santeiros e fábricas de “santinhos” que também ganham com os que têm “fé” em qualquer coisa menos em si e nos seus semelhantes humanos de corpo e alma.

A única pessoa santa que eu conheci, tive à minha frente e cumprimentei numa sua visita a Portugal foi a Madre Teresa de Calcutá. Alguém tem dúvidas de que esta mulher tinha dentro de si, nas palavras e acções de serviço que prestou aos que viu sofrer, o Amor ao próximo e o serviço aos que sofrem de Jesus de Nazaré?

E quantas mulheres e homens bondosos há por este mundo, que foram e são umas santas pessoas, as quais nunca tiveram direito ao título de beatificação e santidade católica só porque não pertenceram a uma Ordem, Irmandade e convento religioso submisso ao Vaticano?

Esta “Nossa Senhora da Vinha, Vindimas e Vinho” começou por ser um monumento identificado como A Vinha e o Vinho pelos vitivinicultores de Alpiarça (Ribatejo). Mas por ter sido colocada numa praça e defronte de uma igreja, logo as “ratas de sacristia” levaram o pároco a repudiar a localização desta linda e original obra escultórica.

Os dias, os meses e os anos foram passando e os que vivem do trabalho, produção e venda do “sangue de Cristo” começaram a chamar-lhe, em surdina, para Deus não os ouvir, “Nossa Senhora do Vinho”. Ela ainda não foi reconhecida pela hierarquia de Deus nem decretada pela Santa Madre, mas com a passagem dos anos ainda chegará aos altares, pois nesta coisa de “santos” os seguidores e os pagadores de promessas (povinho) são quem mais ordena. E, mais convincente do que todos os “homens de saias”, Deus ainda não deixou de beber vinho…

Eu não vejo que haja nesta imagem estética, sensual e bonita, sem silicone nas mamas e na bunda (nádegas em Portugal), nem na referência popular a esta estátua como “Nossa Senhora do Vinho”, qualquer motivo de indignação, heresia ou pecado, até porque o vinho foi uma bebida de todos os deuses da Religião e dos Reis, nunca deixando de ser tomado pelos sacerdotes nas missas como sangue de Cristo e à mesa dos papas, cardeais, bispos, padres, freiras e praticantes da apostólica e romana Igreja Católica.
Quanta da “santa” gente que se diz incarnada em Deus não apanhou grandes e “santas” bebedeiras em comezainas e orgias religiosas e outras?

Já agora, para terminar esta crónica, é bom que se saiba que o vinho é anterior à Escrita, aparecendo assim chamado pela primeira vez na Grécia, onde também foram escritos os Evangelhos.

Em Roma, capital do civilizacional Império Romano, em Latim era chamado e escrito viñum, nome que também se aplicava à videira, a planta que dá o fruto chamado uva, a qual, depois de pisada, prensada ou fermentada se transforma num saboroso líquido. O que resta, o mosto, é aproveitado e destilado até correr dele a aguardente.

Os três maiores produtores mundiais de vinho são a França, Itália e Espanha. Portugal, onde se fazem excelentes vinhos, está em 11º lugar. O Brasil é o 16º.

O Deus do Vinho é o grego Dionísio, filho de Zeus e o único de uma mãe mortal, Sêmele.

No Império Romano a divindade do vinho foi Baco, de onde derivam os bacanais que eram as alegres e desinibidas festas e orgias à alegria, prazeres sexuais e comunicação verbal (in vino veritas) que o vinho provoca em quem o bebe em liberdade.

O vinho é um velho, divino e silencioso amigo que quando se torna num vício do apreciador actua como uma droga que pode destruir a mente, o corpo e a vida de homens e mulheres. Mas há pior: as chamadas “bebidas brancas” e as misturas que os adultos tomam nos bares e os jovens nas discotecas.

O vinho é uma bebida deliciosa, mas a água é o líquido de que o corpo mais necessita para viver. Não nos esqueçamos…


Texto: Marques Pereira
Foto: Marques Pereira
Webmaster: Paula Medeiros

Sem comentários: