29.1.11

A Minha Decepção Existencial,Filosófica e Religiosa Com o Espiritismo


2ª. Parte

Voltando ao assunto nesta segunda parte, volto a lembrar que eu concluí este mês o terceiro ano do curso de licenciatura em filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba.

No ano de 2009 eu estava estudando a disciplina chamada de Teoria do Conhecimento, quando no curso estudamos os mecanismos filosóficos do pensamento, que é uma herança de Sócrates, Platão e Aristóteles mais enfaticamente retomada pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650).

Sem falarmos nos demais teóricos da citada disciplina, eu gostaria de lembrar um comentário de Descartes sobre a infinitude possível ao pensamento. Eis a passagem:

“Com efeito, já percebo que o meu conhecimento aumenta e se aperfeiçoa pouco a pouco e nada vejo que o possa impedir de aumentar cada vez mais até o infinito (...)” René Descartes, “Meditação Terceira”, item 28.

Lembro-me de que no ano de 1989 eu comecei a ler os livros do filósofo brasileiro Huberto Rohden... Que tempo maravilhoso, apesar da minha permanência no movimento espírita... Eu lendo Rohden ampliava os meus horizontes pelo crepúsculo multicolorido da filosofia cristã do referido autor, profundo conhecedor da História da Filosofia, chegando a ter competência para traduzir o Novo Testamento do grego antigo para o português e ter escrito quase cem livros.

E o mais curioso é que eu não conseguia conciliar o que dizia o filósofo Huberto Rohden com o pensamento lastimável de Allan Kardec (o criador do espiritismo).

Mesmo aqui nesta cidade de 400 mil habitantes eu não conhecia nenhum, dentre os leitores dos livros dos referidos senhores, nenhuma pessoa mesmo que conseguisse dar uma explicação satisfatória quanto à minha indagação: como conciliar o pensamento de Rohden com o pensamento de Kardec?

E eu aqui na internet desafio quem quer que seja, que consiga unir o pensamento dos dois personagens acima.

A razão é muito simples, meus amigos. Rohden tem herança filosófica – e Kardec não tem.

Rohden bebeu nas águas cristalinas da Filosofia Antiga e no pensamento do cristianismo nascente. Conheceu a filosofia como poucos, chegando a elaborar uma trilogia: “O pensamento filosófico da Antigüidade”, “A filosofia contemporânea” e “O espírito da filosofia oriental”. E Kardec? Escreveu algum livro de filosofia? Nunca, porque mal conhecia o assunto.

Desde Sócrates tentou-se definir o sujeito, definir o que é o homem.

Sócrates e Platão fizeram isto.

Os filósofos pré-socráticos definiram o homem especificamente tratando; eles buscavam a causa originária de todas as coisas – o arché (αρχή). E achavam os tais pré-socráticos que a tal causa originária seria, por exemplo, para Anaxímenes, o ar; para Anaximandro, o ilimitado; para Heráclito, o fogo, e assim por diante.

Buscaram a causa na natureza. Por isto também são chamados de filósofos naturalistas.

Sócrates não.

Sócrates dizia que a causa de todas as coisas seria questionável, pois seus antecessores buscaram a causa apenas das coisas naturais, quando tudo isto seria defluente do pensamento humano. E para ele, a causa do pensamento humano seria o próprio homem. E restava definí-lo. E o fez magistralmente nas obras “A República”, também às vezes traduzidas como “Politéia” e ainda mais especificamente no livro “Fédon”, onde define o homem e a sua alma. Nada a ver com as elucubrações puramente mentais do senhor Allan Kardec, obra em 90% resultado só da cabeça dele, e nada mais. Além da influência fantasmagórica que ele atribuiu aos espíritos que o cercavam, em meio aos seus delírios com aproximação considerável da tolice que o preenchia, sem falar das suspeitas de que ele tinha a ver com os meandros tortuosos da loucura humana. Em outra ocasião eu escreverei sobre a relação entre espiritismo, neurose e psicose. Vamos ver o que diz Freud e Lacan, mas em outra ocasião.

Voltando a Huberto Rohden (mas acho que dele ainda não saímos), o grande filósofo catarinense escreveu um livro inteiro para definir o homem, apesar de acrescentar ao conhecimento filosófico elementos religiosos, principalmente do cristianismo, sem falar na contribuição de Charles Darwin, apreensível no texto em questão. Isto Rohden fez num livro chamado “O Homem”, leitura que eu recomendo.

E o senhor Kardec, escreveu pelo menos um capítulo de quaisquer de seus livros tentando pelo menos definir o homem? NÃO.

Isto o espiritismo não fez! E não fez deixando esta lacuna no pensamento da doutrina espírita.

Rohden não. Ele escreveu um livro inteiro para definir o homem.

O filosófo Immanuel Kant (1724-1804) também não. Ele escreveu um livro profundo e volumoso para definir o homem e o pensamento humano, a “Crítica da razão pura”.

Teilhard de Chardin, arqueólogo e padre jesuíta, escreveu uma obra sui generis para conceituar o homem: “O fenômeno humano”.

O conhecimento do senhor Kardec sobre o ser humano é vergonhoso.

Ele escreveu (talvez a maior bobagem de toda a sua obra) de que existem pessoas que reencarnam com a missão de ser médiuns. Mas consulte um bom médico e pergunte a ele sobre o transe, se ele é perigoso ou não para a saúde.

Eu fiz esta pergunta a uma médica excelente, e ela me provou “por A mais B” (como dizemos no Brasil) que o transe faz mal à saúde, envelhece, estressa e piora a saúde física e mental de qualquer um. Segundo ela, isto já é de conhecimento da mais avançada medicina, tanto nos grandes laboratórios e institutos quanto nas Faculdades de Medicina, nas suas graduações, nos seus mestrados e doutorados.

Isto é por demais contundente, é uma prova incisiva de que o espiritismo faz mal à saúde.

E faz mal também à filosofia.

Até logo, meus amigos.

Por favor, comentem o meu artigo. Eu preciso saber o que vocês acharam.

Texto: Jaime Clementino de Araujo Junior

Foto: Arquivo

Webmaster: Paula Medeiros

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