27.1.13

A Botija daqui


 O texto da semana é  de nosso convidado João Aurélio, que com seu regionalismo brasileiro sempre que lhe é possível escreve algo aqui no nosso Blog.  Marinheiro e ex- imigrante, Aurélio  fala  do orgulho de ser de uma  região pobre do brasil e nos  conscientiza  que  devemos  mostar e bem o que  temos , os  nossos  tesouros  culturais. se não dermos  o devido valor , quem o fará?



"O homem cria estereótipos como forma de expressar mentalmente uma imagem ou pensamento sobre alguma coisa. Esses estereótipos são, muitas vezes, preconceituosos.
Lembro que, certa vez, em 2007, um casal de cariocas me perguntou em que parte do Brasil eu nascera. Ao responder que era da Paraíba a senhora me disse:
- Fale alto. Diga com orgulho: Eu sou da Paraíba!
Eu fiquei realmente surpreso com a atitude daquela senhora, pois se falei baixo assim o fiz porque é de minha natureza. Ainda mais estávamos numa igreja, pelo que devíamos silêncio. Se me fosse incômodo dizer que sou paraibano, eu ainda poderia ter dito que sou de outro estado...
O fato é que aquela senhora tinha uma imagem bem carregada de preconceito sobre pessoas que não tivessem nascido nas regiões mais abastadas do Brasil. O que ocorrera testifica tal fato.
Mais importante do que aquilo que as pessoas pensam a nosso respeito, é aquilo que nós pensamos sobre nós próprios. Isto sim é o que faz toda diferença, pois a partir da idéia que fizermos sobre nós, podemos influir na construção da idéia que outros fazer a nosso respeito. Se a desfiguram e passamos a acreditar na imagem desfigurada, perdemos o foco do valor que temos, e isto é desastroso sobre todos os aspectos.
Diariamente somos bombardeados pela grande mídia a dizer o que devemos dar valor. As novelas, quando querem falar de algo que é chique, reportam-se a Paris, Londres, Nova Iorque, etc. Nos telejornais, quando querem falar de povo inteligente falam do Japão ou EUA. E não quero dizer que estes países citados não sejam merecedores daquilo de bom que se diz sobre eles, no aspecto do desenvolvimento tecnológico, por exemplo. O que retifico sobre a atuação da mídia é a supervalorização daquilo que é de fora em detrimento daquilo que é nosso.
Participei, na década de 90, em Camalaú, Paraíba, dum seminário sobre desenvolvimento, no qual se falava sobre turismo na Microrregiãodo Cariri Ocidental da Paraíba. Um dos palestrantes era o padre João Jorge, de nacionalidade holandesa, o padre que oficiava as missas na Paróquia de São Sebastião do Umbuzeiro, a qual ainda pertence Camalaú.
Na ocasião, disse-nos que os seus amigos holandeses que visitavam o cariri ficavam encantados pela região, particularmente, pela culinária, pela beleza natural e principalmente pelo acolhimento do povo.O Pe. João opinava que um projeto turístico aproveitando o potencial do cariri, se bem feito, atrairia turistas da Europa e de outros lugares. Esse fatores: o calor, a beleza natural, a hospitalidade do povo, e algumas coisas mais, tudo isso, no seu conjunto, encantava seus amigos e familiares holandeses.
Já li que o imperador D.Pedro II, quando no exílio na França, dizia sentir saudades do sol do Brasil. Isto dito por alguém que exerce algum cargo político, a gente até pode achar que se trata dum discurso poético para agradar ao ouvinte, só que há toda verdade nas palavras de D. Pedro II, e os 5 anos que vivi em Portugal, me fizeram entender por que D. Pedro II sentia falta do sol do Brasil e ainda entendi de forma mais apurada as palavras do padre João.

Em 2007, eu morava em Braga, Portugal, norte daquele país, e para ganhar o pão de cada dia, como diz um amigo meu, trabalhei por alguns meses como pintor de residências. Trabalho comum entre os imigrantes. Estava dentro da residência na qual trabalhava quando vi, pelos vidros da janela, alguns raios do sol. Fiquei extasiado! Sai e sentei-me um pouco, só para apreciar aqueles raios solares. Fiquei ali por alguns minutos. Naquele momento, apesar da beleza do sol e dum céu completamente azulado, a temperatura devia estar pelos 3º ou 5º (graus). Um frio de torá, como falamos no cariri.
Naquela temperatura ou um pouco mais acima dela, vive-se, no mínimo, 1/4 de ano em Portugal. Na França costuma ser mais frio. Daí, o porquê D. Pedro II sentir saudades do sol do Brasil como também é uma das razões dos holandeses adorarem as terras caririzeiras, de temperaturas mais altas durante o dia e aquela brisa maravilhosa durante à noite. Naquele momento, fiquei a refletir sobre esses fatos, sobre as palavras do Pe. João e a citação de D. Pedro II.
Isto nos leva a pensar que a atividade turística na região é algo perfeitamente aplicável. No entanto, se fala muito nisto e não preparam os munícipes na extensão devida.
Hoje, já vemos algumas ações quanto ao desenvolvimento de projetos turísticos na região do cariri. Entretanto, é necessário conscientizar as pessoas sobre o assunto. As escolas deviam ter mais conteúdo quanto à história regional e municipal; ter mais atividades extra-curriculares neste sentido. Isto seria bom para que a juventude nativa conhecesse melhor o lugar que reside e se preparasse para descobrir as botijas escondidas na sua região. Caso isso não aconteça, vai ter que percorrer o caminho de Santiago, não o de Compostela, mas o do personagem Santiago do livro de Paulo Coelho, “O Alquimista”. Santiago após andar “meio mundo” a procura de um determinado tesouro, descobre que aquilo que procurara sempre estivera no “terreiro” de sua casa. Portanto, encontremos e arranquemos as botijas da nossa região antes que outros o façam."


Texto; João Aurélio
Nota explicativa; Paulo Medeiros 
Foto: web
Webmaster: Paula Medeiros



A tragédia que  vitimou mais de 200 universitários  que se divertiam em uma  discoteca no centro de Santa Maria no Rio Grande do Sul (Brasil), comoveu a todos. Nosso blog se solidariza com as  vitimas.






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