15.9.06

IR AO ESPAÇO: O MEU SONHO NÃO REALIZADO



O Ser Humano que não sonha nunca viverá tudo o que pode e não alcançará o máximo que gostaria de fazer a si e possuir para a sua auto-estima.

Todos os que não se lançam na aventura do desconhecido, naquilo que os outros pensam que nós não somos capazes de realizar ou atingir, nunca conhecerão o seu potencial anímico, a inteligência e a coragem que têm no cérebro e no corpo.

Após a URSS ter colocado no Espaço o primeiro satélite artificial, em 4 de Outubro de 1957, o “Sputnik -1”; e em 7 de Novembro o primeiro ser vivo (a cadela “Laika”), eu e um amigo da minha idade adolescente escrevemos uma carta ao governo dos United States of America (USA) a oferecermo-nos voluntariamente como cobaias humanas para seguir no satélite norte-americano que estava a ser planeado e preparado para a grande corrida espacial entre as duas maiores potências do mundo, ao tempo envolvidas numa chamada e ameaçadora “guerra fria” política.

Nessa carta escrita por mim e inserida numa notícia do jornal “Diário Popular”, de Lisboa, edição de 15 de Novembro de 1957, com o título “DOIS ESTUDANTES OFERECERAM-SE PARA SEGUIR NO SATÉLITE AMERICANO” dizíamos: “Não queremos com este arrojo, este humanitarismo e esta decisão receber quaisquer galardões; queremos apenas ser úteis!”. Queríamos apenas ter uma oportunidade de ser úteis, pois o regime fascista-católico do Salazarismo que então governava e subjugava em Portugal tirava-nos a Liberdade e a Esperança, mas não conseguia matar-nos a vontade e a coragem que sentíamos dentro de nós.

Dois meses depois, a 17 de Janeiro de 1958, o referido jornal lisboeta publicava o texto de uma carta com a resposta do major-general John B. Mendaris, chefe do Departamento de Projecteis Balísticos e Teleguiados do Exército dos U.S.A., que dizia: “A vossa carta de 15/11/57, em que se ofereciam como voluntários para arriscardes a vossa vida pelo bem da Humanidade, recebeu a nossa melhor consideração. (…) Louvo a vossa coragem e os motivos que vos compeliram a tal”.

O meu sonho terminou assim, mas os meus olhos continuaram a perscrutar o Espaço e a ir, morrer e regressar à Terra com os astronautas e cosmonautas. E fiquei muito feliz por ter “acompanhado” o tenente-coronel da F.A.B., Marcos César Pontes, brasileiro natural de Bauru-S.Paulo, nascido em 11/3/1963, que em 30 de Março de 2006 viajou até à EEI/ISS (Estação Espacial Internacional), partindo do cosmódromo de Baikonur (Cazaquistão-Ásia Central).

A oferta da minha vida que fiz aos U.S.A., após a saída da notícia no jornal “Diário Popular” pôs no meu encalço a polícia política da Ditadura, a PIDE, sendo sido levado até um chefe que me quis ouvir, puxou-me as orelhas com ambas as mãos e afirmou: “Tu não vais a lado nenhum, porque nós precisamos de ti para ires defender as nossas colónias. Não voltes a ter sonhos destes!”. Este episódio não foi noticiado em qualquer jornal, porque a Censura não deixou.

O primeiro homem a viajar no Espaço, à volta da Terra, foi o russo Iuri Gagarin, em 12 de Abril de 1961. Uns dias antes, eu tinha partido de avião para um dever pátrio do qual regressei ao fim de dois anos: a Guerra Colonial que começou na então província ultramarina portuguesa de Angola. O meu “destino” imposto pela PIDE cumpriu-se, mas sobrevivi.

Em 20 de Julho de 1969, os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin, partindo no módulo lunar “Eagle”, foram os primeiros seres humanos a pisar o solo agreste e sem vida da Lua, um satélite da Terra que nos faz sonhar com noites românticas de amor ao luar.

Os U.S.A. têm em curso um programa espacial que voltará a levar o Homem à Lua em 2018, mas eu “ainda não fui convidado” para seguir nessa segunda viagem humana ao satélite natural do nosso planeta.

Com os pés bem assentes na Terra, hoje posso dizer não fui nem jamais serei astronauta, restando-me a consolação de não me esquecer que sou descendente dos pioneiros dos Descobrimentos, esses corajosos, persistentes e heróicos navegadores Portugueses que se lançaram no Desconhecido que então eram os grandes oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, em naus que pareciam grandes cópias de cascas de nozes, à descoberta de “novos mundos”, tendo eles chegado, entre outros pontos longínquos do hemisfério Sul, a um porto seguro do Brasil onde nunca tinham sido vistos homens brancos…

Texto: Marques Pereira

Foto: Autor N.I.

Montagem: Paula Medeiros

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