2.9.06

FORTE DE SANTIAGO DO OUTÃO - Um monumento da história de Portugal


O Passado nunca exerceu em mim qualquer paixão pelos monumentos militares e religiosos que sobreviveram ao Tempo. Em cada um existe muito trabalho escravo, fome, sangue e morte de povos a quem, monarcas, padres e bispos obrigaram a construir.
Estes sobreviventes de pedra transformada pelos homens constituíram-se em páginas, documentos e testemunhos da História de cada nação ou país.
Portugal iniciou os Descobrimentos porque a Espanha não o deixou expandir-se do ocidente para o centro e oriente da Europa. Teve que se virar para o grande e desconhecido Oceano Atlântico, este mar imenso que também é do Brasil.
Os seus primeiros barcos oceânicos encontraram uma rentável motivação comercial em Ceuta, localizada no norte de África e defronte de Algeciras (Espanha) e de Gibraltar (Inglaterra), após ter sido conquistada pelo rei D. João I aos muçulmanos em 21 de Agosto de 1415, à frente de uma grande esquadra naval.
E a partir deste estratégico porto de mar que antes fora detido por Fenícios, Cartagineses, Romanos, Vândalos, Bizantinos, Muçulmanos e actualmente está na posse dos Espanhóis desde 1668 (Tratado de Lisboa), os Portugueses controlavam as entradas e saídas do Mediterrâneo na compra, venda e tráfego de escravos e, depois, o comércio de especiarias, madeiras, ouro e pedras preciosas.


O Brasil, entre outros países lusófonos, tem alguns padrões marcantes dos Descobrimentos, uma Língua Portuguesa e arquitectura colonial que recordam, inequivocamente, que a História de Portugal passou pelo seu território e nunca deixará de se fazer sentir em muitas cidades brasileiras e nas pessoas luso-descendentes.
Em Setúbal, cidade-distrito ao sul de Lisboa, a cerca de 40 quilómetros de distância da capital de Portugal, no exacto local onde o rio azul Sado entra no Oceano Atlântico, no litoral sul da serra da Arrábida, diante da península/”ilha” de Tróia, existe um curioso monumento histórico: o Forte de Santiago do Outão.
Esta pétrea página da História de Portugal começou a ser construída em 1390, por ordem do lisboeta rei D. João I, filho bastardo de D. Pedro I e de uma dama galega D. Teresa Lourenço, como uma atalaia (torre) de vigia e defesa da costa marítima que se estendia de Albarquel até Sesimbra, o que também levou à construção dos fortes de Santa Maria da Arrábida (que serviu de casa de praia para os filhos bastardos do rei D. João V -1706/1750- e onde o ditador António de Oliveira Salazar foi visto a namorar com a jornalista francesa Cristine Garnier) de Santiago de Sesimbra.

Até hoje foi beneficiada e alterada pelos reis portugueses D. Manuel I, D. Sebastião (que foi morto e desapareceu em Marrocos - Alcácer Quibir - não deixando descendentes) e pela dinastia espanhola dos três reis Filipes entre 1580 e 1 de Dezembro de 1640. Depois desta data ainda foi melhorado pelo rei D. João IV (O Restaurador).
Este forte veio a ser desartilhado no séc. XIX e convertido em prisão, mas em 1890 passou a residência de veraneio do rei D. Carlos I e sua esposa D. Maria Amélia de Orleans. E em 1900, devido ao seu bom sol, maritimidade e temperaturas amenas e estáveis foi aproveitado para sanatório de tuberculoses ósseas e pulmonares.
Em 1909 e até hoje funciona como Hospital Ortopédico Santiago do Outão, tendo uma praia privativa.
Nem todos os monumentos históricos de Portugal, feitos pela vida e morte do seu povo e por escravos, têm esta história útil a todos os cidadãos e necessidades desta nação.
Sobre os telhados deste alterado conjunto arquitectural militar tardo-medieval, o farol do Outão orienta, à entrada da barra, os barcos dos pescadores de Setúbal que regressam da faina de pesca na orla marítima, os navios de mercadorias e os grandes petroleiros para reparação no estaleiro da Mitrena, na zona industrial do rio Sado, meio quilómetro acima da porta aberta ao Oceano Atlântico que, por vezes, faz chegar as suas águas até à vila romana de Alcácer do Sal, meia centena de quilómetros a montante, na região do Alentejo.
Texto: Marques Pereira
Fotos: Marques Pereira e Rosa Cavaco

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